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Hemorragia Abdominal

Hemorragia abdominal geralmente é resultado da ruptura de órgãos parenquimatosos, lesão de vasos abdominais ou coagulopatia. A presença de sangue na cavidade abdominal pode gerar episódio de dor aguda e grave devido ao contato do sangue com a cavidade e estruturas internas. As principais etiologias são: rupturas de massas esplênicas e/ou hepáticas e trauma abdominal.

A apresentação clínica varia de acordo com o início da hemorragia, podendo ser aguda ou crônica.

Apresentação aguda apresenta sinais de choque hemorrágico como mucosas pálidas, tempo de preenchimento capilar aumentado e taquicardia (cães).

A apresentação crônica pode permitir uma compensação cardiovascular e portanto podem apresentar relutância em deitar ou ficar em repouso, distensão abdominal, coluna arqueada, febre, anorexia e/ou depressão. Sopro pode estar presente devido a anemia.

Hematoma periumbilical (sinal de Cullen) ou inguinal são indícios fortes de hemorragia abdominal.
  
Na palpação abdominal deve ser realizada na busca de distensão abdominal, detecção de líquido livre (cuidado!!!: necessário pelo menos 40 mL/Kg de líquido livre para detectar onda de fluido), massas em orgãos. À auscultação, um abdome silencioso significa acúmulo de fluido, hipomotilidade, íleo paralítico ou peritonite difusa.   

Atenção especial deve ser dada ao exame de coluna que pode gerar sinais de abdome agudo. Durante o  exame também deve ser buscado sinais de trauma, petéquias e equimoses.

A paracentese abdominal geralmente é realizado antes da mesmo da radiografia. É importante ressaltar que é necessário pelo menos 10 mL/Kg para que a paracentese seja positiva. Caso o resultado seja negativo pode-se realizar a paracentese abdominal por quadrante. A radiografia abdominal geralmente é realizada quando o resultado da paracentese é negativo. Pode ser realizado também uma avaliação ultrassonográfica rápida chamada de FAST (Focused Abdominal Sonography for Trauma ou há referências que usam como Fast Assessment with Sonography for Trauma -  que recebe a letra "a" para abdominal e a letra "t" para thoracic; ex.: a-FAST e t-FAST) que já está protocolada para cães e gatos e avaliam regiões específicas em busca de líquido livre de forma rápida. Na ausência de estudo de imagem ou no caso de resultado negativo na paracentese e na ultrassonografia pode-se realizar o lavado peritoneal diagnóstico (LPD). A partir do líquido obtido do lavado deve ser realizado citologia, hematócrito e bioquímica para avaliação.

O tratamento imediato inicial consiste no ABC. A distensão abdominal causada pelo sangue pode levar a  hipoxemia e dificultar a respiração necessitando assim oxigenioterapia. A ressuscitação de volume intravascular deve ser realizado segundo metas pré-definidas. Analgésicos geralmente são necessários durante a ressuscitação de volume.

Animais com hemorragia ativa geralmente requerem cirurgia de emergência como parte da estabilização primária. Caso haja não haja a possibilidade de intervenção cirúrgica imediata pode-se realizar contrapressão abdominal para estabilizar o paciente até chegue alguém habilitado para operar ou durante a transferência para local onde exista um cirurgião de plantão.

Em casos de coagulopatia, faz necessária a transfusão sanguínea e em casos de intoxicação por rodenticidas deve-se aplicar vitamina K1.

Ref.: Rebecca Kirby. Acute Abdominal Hemorrhage. Disponível em: http://www.animalemergencycenter.com/education.html

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